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domingo, 7 de fevereiro de 2010

Cotas - Justo ou INjusto???

Há muito intentava falar aqui sobre a situação polêmica provocada pela política de cotas reservada aos alunos oriundos de escola pública. Esta questão já desenvolveu debates, e porque não dizer, embates, em todo o território nacional e causa divergências em diversos pontos. Correntes e opiniões foram suscitadas de tal assunto e às vezes, no meu sentir, somos obrigados a ver e ouvir até asneiras, de pessoas que pensam estar acima dos outros. Hoje, um email recebido de meu amigo, João Paulo Meneses, que é meu companheiro de curso de Direito na UERN (através das cotas), hodiernamente, estagiário da Procuradoria Geral da República, juntamente com outra cotista, me fez perceber a necessidade de registrar minha opinião sobre. Ressalte-se que, João Paulo concorreu para com este estágio, com inúmeros alunos, de Direito, não cotistas.

Antes portanto, de adentrar no assunto propriamente dito, impende destacar minhas apreciações sobre minha turma ao longo desses quase, quatro anos de curso. Certo professor teve a ousadia de afirmar em sala de aula, que a baixa aprovação dos alunos da UERN, no Exame de Ordem da OAB, era decorrente do sistema de cotas implantados naquela instituição. A afirmação poderia ensejar discussões calorosas e fortes a respeito, todavia, não foi o que aconteceu. O colega, e também professor da aludida instituição, no curso de Comunicação Social, Kildare Holanda, acalmou os ânimos de todos, inclusive do professor que afirmara tal ponto de vista, arguindo que isso não era verdade. Kildare mostrou que a primeira turma de cotista, que saiu da UERN, foi o ano em que esta (uern), obteve um melhor rendimento no exame de ordem, e mais, que obteve nota máxima no ENADE.

Costumo ser muito observadora com os ambientes e pessoas que convivo, defeito meu, talvez, mas o fato é que gosto de analisar os comportamentos e atitudes das pessoas. Depois do dia, dessa infeliz e contrariada  afirmação do professor fiquei a comparar cotistas e não cotistas dentro de minha sala de aula. Não precisou ir muito longe, para concluir que o sistema de cotas só visa minimizar a desigualdade vigente em nosso país, no que concerne a qualidade do ensino. Não significa assim dizer, que os cotistas são menos qualificados para obter sucesso em um vestibular de uma faculdade pública, mas sim, que a oportunidade que o cotista tem, ou seja, o que lhe foi oferecido na rede pública de ensino, está aquém da necessidade e exigência atual e que,  para corrigir isso, foi implantado uma forma diferente de avaliar, ratifique-se, uma forma diferente de avaliação e não ausência de avaliação.

Meu já citado amigo, a quem alcunhamos de JP, é um excelente exemplo que utilizo para comprovar que a existência de cotas, em momento algum enseja na falta de qualificação pessoal, pelo contrário. Com toda consideração e respeito que tenho pelos colegas com quem estudo, são todos esforçados, inteligentes e dedicados no que fazem, todavia, não posso negar minha felicidade em afirmar que desconheço algum, que tenha a facilidade e competência para assimilar as coisas tão rápido quanto o meu amigo JP. Ele tem uma capacidade inata de absorver o que ler, o que se discute de maneira tão rápida, que chega a surpreender. Não duvido de sua condição, em hipótese nenhuma, entretanto, mesmo diante de tudo que afirmei acerca de JP, e, embora ele ainda tenha sido visto como um privilegiado, em detrimento dos demais, porque adveio do antigo CEFET, considerado hoje uma das melhores instituições do ensino médio no Brasil, ele adentrou através do sistema de cotas. Esse fato pra mim, não retira em momento algum sua condição e capacidade de hoje se destacar em curso de direito na UERN.

Ora, não me venham com discurso, de que o governo deve acabar com a diferença entre as escolas públicas e particulares de nível médio em nosso país. Entendo que deva se promover escola de qualidade para todos, até porque isso iria concretizar e efetivar um dos princípios constituicionais, o da isonomia, que na posição defendida por Aristóteles, a igualdade material consiste em tratar os iguais de forma igual e os desiguais de forma desigual, na medida em que se desigualam.

Há quanto tempo se discute isso???? Há quanto se luta, se planeja, criam-se projetos de melhoria da qualidade do ensino nas escolas públicas? No entanto, quais as medidas efetivas até hoje, para que este objetivo fosse alcançado? Sou totalmente a favor de que hajam maiores investimentos na educação pública, e sou uma, das que encabeço, dentro dos meus limites é claro, essa batalha. Luto para que essa meta, um dia, seja realmente alcançada, e que, a igualdade de condição, para a ascensão e acesso às Universidades Públicas venham definitvamente acontecer.

Todavia, por favor, não me venham pedir comodismo e conformação diante do que vimos em nosso país. Não podemos confundir esperança com espera, com inércia. Não podemos deixar de confiar e acreditar em mudanças. Agora, esperar por elas, como parasitas, isso não dá. Ver o bonde passar na sua frente e você permanecer inerte, isso pra mim tem outro nome. Não me vejo na condição de roubar vaga de ninguém porque fui cotista.  Concorri, em pé de igualdade com centenas de pessoas, da mesma forma que os não cotistas concorreram. Prestei vestibular do mesmo jeito, submeti-me a processo seletivo da mesma maneira. Por que roubei vaga de alguém?  Ora, minha concorrência foi mais de 20 para uma vaga, eu entrei entre as vagas disponíveis que havia reservadas. Os não cotistas façam o mesmo. Já fiz outra faculdade, também na UERN, e não havia o sistema de cotas na época, nem por isso, me vejo diferente, melhor, superior às pessoas, atualmente entram no curso de pedagogia pelo sistema de cotas.

Não sou parasita, não nasci pra ficar na condição de esperar pra ver o que será. Quero fazer acontecer, corro atrás, mesmo que não consiga, mesmo que meta a cara na parede. E daí, se eu não conseguir. Eu tento de novo. Não podemos trocar a esperança de um dia ver um país mais justo e igualitário, por uma espera incansável e sem fim. Aguardar que a melhoria do ensino aconteça em nosso país, para poder haver igualdade entre escola pública e privada, seria o mesmo que esperar que a distribuição de renda um dia fosse efetivada em nosso país, como em um país socialista. Não vamos deixar de lutar por políticas que nos oportunize, na mesma medida, em que é oportunizado a quem tem dinheiro e tempo livre apenas para estudar, porque muitos acreditam que deveria existir a igualdade das escolas de nível médio. Ora, quanto tempo teríamos que esperar? A passividade e acomodação resultariam sim, numa maior segregação da existente atualmente.

Ah, mas não podemos alvitrar a questão da dedicação, da vontade de vencer, pois para o discurso capatalista, quem quer consegue, corre atrás e alcança. Discurso bonito não!!!?? Realmente, não podemos deixar de lado a dedicação dos alunos da escola privada, eles se esforçam, afff e como se esforçam, para alcançar os seus sonhos, sonhos estes, muitas vezes frustrados, em detrimento dos sonhos 'dos pés rapados'. É pra discutir dedicação, então não usemos de subterfúgios e nem de divagações, vejamos a realidade nua e crua.

Se é para averiguar e avaliar a dedicação como critério pertinente na aprovação dos candidatos, então meus amigos, reflitamos... A questão está na dedicação? Quem dedica-se mais, quem já está inserido no mercado de trabalho, porque precisa desde cedo trabalhar para sustentar-se, e, além disso desdobrar-se para estudar e ralar em busca de uma vida melhor, ou àqueles que tem o tempo disponível apenas para o estudo, descanso e lazer???? Por favor... De que dedicação, se falam nesses discursos que se enfileiram e crescem dia-a-dia, na busca e no propósito de acabar com a esperança de muitos também alcançarem seus sonhos.

É importante ainda que se destaque um outro fator nessa discussão. Porque ninguém critica a política do PROUNI???? Nossa, essa política é muito justa. O governo Federal investe no país e nas pessoas, oferecendo melhores condições e acesso ao ensino superior, beneficiando as pessoas que não tem condição para tal. Mais um lindo disucurso, também concordo com ele. Todavia, se puderem arguir o contrário que o façam. O que é o PROUNI, senão um sistema de cotas reservado a pessoas detentoras de menores posses???? Sou contra?? Não. De forma alguma, só não entendo porque a mesma discussão em pauta, não envolve também este programa. Só são cotas se for na escola pública???

Para findar meu extenso, alongado, só espero que não enfadonho, post, (risos) complemento com o comento de meu amigo JP, em resposta a um desabafo de um aluno não cotista, que luta para que os CEFETIANOS, como denomina meu amigo, não sejam inseridos no mundo das cotas. Só não entendo uma coisa, se esses alunos que afirmam que nós cotistas, roubamos sua vaga, porque eles são mais competentes do que nós, por que eles não conseguem vencer seus concorrrentes, e entrar dentro das vagas delimitadas a eles???? Se são tão bons, provem. Essa é minha posição sobre o sistema de cotas implementadas nas escolas públicas do Brasil. O espaço está aberto à discussões, debates, opiniões, divergências. Opinem. Eis o comento de JP:

O e-mail intitulado “O absurdo da "aprovação" em Medicina na UFRN!” (abaixo),  o qual se presta a um desabafo, muito mas consegue transparecer recalque, senão vejamos. O argumento de inclusão consiste numa técnica de que se serve a UFRN para facilitar o ingresso de estudantes oriundos de escolas públicas, como um autentico mecanismo de promoção da igualdade material, muito bem sintetizada na proposição aristotélica de “tratar de forma desigual os desiguais, na medida em que se desigualam”. Ora, as cotas sociais são previstas em lei para alunos de escolas públicas, pelo que os IF's (antigos Cefets) não podem ser excluídos, já que são instituições públicas de ensino. O autor do mal-escrito e-mail poderia até atacar as cotas partindo da argumentação de que o poder público deveria provir educação de qualidade para todos, de que se os institutos federais, sendo escolas públicas, são eficazes, por que não o são também os Anísios Teixeiras e Ateneus da realidade brasileira? Penso que atacar os estudantes do Cefets para comover a Comissão de Vestibulares e Concursos da UFRN redundará num esforço “intelectual” infrutífero, pois, esperneiem o quanto puderem, mas a realidade é esta: enquanto existir cotas sociais e os institutos federais forem públicos, os alunos provindos destes beneficiar-se-ão com aquelas. Creio que a discussão deva seguir por outro rumo, que não o do leve ataque ao estudante cefetiano ou ifetiano, como queiram.

O comento de JP se refere a um desabafo de um estudante frente às cotas. Para verem o desabafo acessem o blog de Taísa Galvão. Para isso clique aqui.

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