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quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Você gosta de forró?

Diz um certo ditado que gosto não se discute, mas convenhamos, há coisas que não podemos deixar de lado e não discutirmos, não é mesmo? É mais forte do que a gente. Por exemplo, discutir o gosto pelo forró que existe hoje em dia, que somos obrigados a ouvir constantemente é mais forte do que qualquer outra coisa.

Ponderar sobre o mal que a baixaria desse estilo musical tem propagado, é mais do que necessário. Não podemos criticar os empresários e os compositores dessas ‘músicas’, eles só a produzem porque tem audiência. Só existe produção desse estilo musical, porque existem fãs para ele.

Olha, o absurdo chega a ser tão grande, a falta de bom gosto, de respeito, de valores, que tem uma loja aqui no centro de Mossoró, que não tem mais o que fazer, passa o dia inteiro nos enchendo com ‘músicas-forrós’ de baixo nível que chega doer na nossa consciência.

A situação está insustentável, acredito que deve estar perto de alguém tomar uma providência. Diante de tanta tormenta e partindo deste enfoque fático, sendo bombardeada com um som estrondeante e insuportável, recebi um e-mail contendo uma crítica de Ariano Suassuna, sobre o forró atual e deixo-o para meditação de todos. Eis o texto:

'Tem rapariga aí? Se tem, levante a mão!'. A maioria, as moças, levanta a mão. Diante de uma platéia de milhares de pessoas, quase todas muito jovens, pelo menos um terço de adolescentes, o vocalista da banda que se diz de forró utiliza uma de suas palavras prediletas (dele só não, e todas bandas do gênero). As outras são 'gaia', 'cabaré', e bebida em geral, com ênfase na cachaça. Esta cena aconteceu no ano passado, numa das cidades de destaque do agreste (mas se repete em qualquer uma onde estas bandas se apresentam). Nos anos 70, e provavelmente ainda nos anos 80, o vocalista teria dificuldades em deixar a cidade.

Pra uma matéria que escrevi no São João passado baixei algumas músicas bem representativas destas bandas. Não vou nem citar letras, porque este jornal é visto por leitores virtuais de família. Mas me arrisco a dizer alguns títulos, vamos lá: Calcinha no chão (Caviar com Rapadura), Zé Priquito (Duquinha), Fiel à putaria (Felipão Forró Moral), Chefe do puteiro (Aviões do forró), Mulher roleira (Saia Rodada), Mulher roleira a resposta (Forró Real), Chico Rola (Bonde do Forró), Banho de língua (Solteirões do Forró), Vou dá-lhe de cano de ferro (Forró Chacal), Dinheiro na mão, calcinha no chão (Saia Rodada), Sou viciado em putaria (Ferro na Boneca), Abre as pernas e dê uma sentadinha (Gaviões do forró), Tapa na cara, puxão no cabelo (Swing do forró). Esta é uma pequeníssima lista do repertório das bandas.

Porém o culpado desta 'desculhambação' não é culpa exatamente das bandas, ou dos empresários que as financiam, já que na grande parte delas, cantores, músicos e bailarinos são meros empregados do cara que investe no grupo. O buraco é mais embaixo. E aí faço um paralelo com o turbo folk, um subgênero musical que surgiu na antiga Iugoslávia, quando o país estava esfacelando- se. Dilacerado por guerras étnicas, em pleno governo do tresloucado Slobodan Milosevic surgiu o turbo folk, mistura de pop, com música regional sérvia e oriental. As estrelas da turbo folk vestiam-se como se vestem as vocalistas das bandas de 'forró', parafraseando Luiz Gonzaga, as blusas terminavam muito cedo, as saias e shorts começavam muito tarde. Numa entrevista ao jornal inglês The Guardian, o diretor do Centro de Estudos alternativos de Belgrado. Milan Nikolic, afirmou, em 2003, que o regime Milosevic incentivou uma música que destruiu o bom-gosto e relevou o primitivismo est tico. Pior, o glamour, a facilidade estética, pegou em cheio uma juventude que perdeu a crença nos políticos, nos valores morais de uma sociedade dominada pela máfia, que, por sua vez, dominava o governo.

Aqui o que se autodenomina 'forró estilizado' continua de vento em popa. Tomou o lugar do forró autêntico nos principais arraiais juninos do Nordeste. Sem falso moralismo, nem elitismo, um fenômeno lamentável, e merecedor de maior atenção. Quando um vocalista de uma banda de música popular, em plena praça pública, de uma grande cidade, com presença de autoridades competentes (e suas respectivas patroas) pergunta se tem 'rapariga na platéia', alguma coisa está fora de ordem. Quando canta uma canção (canção?!!!) que tem como tema uma transa de uma moça com dois rapazes (ao mesmo tempo), e o refrão é 'É vou dá-lhe de cano de ferro/e toma cano de ferro!', alguma coisa está muito doente. Sem esquecer que uma juventude cuja cabeça é feita por tal tipo de música é a que vai tomar as rédeas do poder daqui a alguns poucos anos.

Ariano Suassuna

5 comentários:

  1. ''Isso é fruto de um país que infelizmente esqueceu os princípios básicos da educação,moralidade e dos bons e velhos costumes;não sei se por falte de quem os ''dite'' ou por falta de quem os ensine.'' DANIELA MARIA

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  2. É Daniela você levantou uma questão bem intrigante, será falta de quem os dite ou de quem os ensine?

    Como acredito que a democracia é um mal necessário, prefiro entender que é falta de quem os ensine, de quem os incentive, pois ditar já seria no mínimo algo ditador pra fazê-lo.

    Contudo, se essa coação/imposição ao incentivo musical de qualidade, for o necessário para por fim a esses dissabores que temos atualmente no mundo da música, absurdos sem igual, creio eu, já seria de bom proveito.

    Espero que um dia possamos ver um amadurecimento cultural de nossos jovens.

    Obrigada por sua interação neste espaço, fico deveras honrada com tua presença aqui. Abraço.

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  3. Realmente a cultura do forró hoje é uma negatividade,é um grande incentivo ao álcool e a outras coisas mais,que so deseducam o jovemem na sua formação,e hoje é muito dificil mudar as opiniões de muitos sobre esse assunto,por que ja são manipulados pela midia...

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  4. Ontem, ouvi o pastor Silas Malafaia falando em um programa de auditório, a importancia de se ter regras p as coisas, pq sem regras a coisa fica "desmantelada" (o desmantelada foi meu mesmo, rsrs) e em relação a tudo, eu concordo....o apelo sexual q existe nessas "musicas" e a discriminação da mulher ea banalização da cachaça, td isso infelizmente, ainda gera opinião em nossos jovens q estão, ao q me parece, um tanto alienados c a realidade (n so na musica). Foi-se o tempo em q podíamos ouvir um forró de bom gosto, e nao só forró, mas muito estilo musical por ai q tem apelo sexual q diminue a mulher à apenas um objeto e q são dominadas pelo dinheiro. Musica de bom gosto, no nosso país, tem pouca platéia...

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  5. Pois é Claudiana essa banalização dos costumes e valores em nosso país tem causado realmente muito males aos nossos jovens. Precisamos nos ater a essa "deseducação e lutarmos para sensibilizar e ensinar a esta nova geração valorizar o que realmente há de bom, em nossa cultura.

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