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sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Batismo de Sangue: Testemunho impressionante da brutalidade da ditadura militar no Brasil

O Geógrafo, Professor-adjunto da UERN, Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente, José Romero Araújo Cardoso me enviou um artigo super interessante, sobre a brutalidade da ditadura militar militar no Brasil. Sem dúvida uma aula de história, digna de ser lida.

Deixo com vocês o artigo: Batismo de Sangue: Testemunho impressionante da brutalidade da ditadura militar no Brasil.

(*) José Romero Araújo Cardoso

Ao ler o livro de autoria do respeitado sacerdote Frei Betto, por título “Batismo de Sangue”, fiquei impressionado com a brutalidade da ditadura militar no Brasil comandada pelo Delegado Sérgio Fleury.

O livro narra a inserção de Dominicanos no movimento guerrilheiro encabeçado pelo ex-Deputado Constituinte de 1946, Carlos Marighella, líder da Ação nacional Libertadora, responsável por atos espetaculares no Brasil dominado pelo AI-5, como o seqüestro do Embaixador Norte-Americano Charles Burk Elbrick Jones, feito realizado em parceira com o Movimento Revolucionário Oito de Outubro - MR-8, assim denominado em razão do martírio de “Che” Guevara, nesse dia do ano de 1967, na Bolívia.

Detendo-se sobremaneira na tragédia do Frei Tito de Alencar Lima, nascido em Fortaleza/CE no dia 14 de setembro de 1945, o livro de Frei Betto narra com detalhes impressionantes como a repressão foi prendendo os religiosos para conseguir chegar ao chefe da ALN, morto em emboscada em novembro de 1969 na Alameda Casa Branca, São Paulo/SP, cuja tocaia foi comandada pelo Delegado Fleury.

As torturas ignominiosas impostas aos presos políticos são narradas com realismo impressionante, mostrando as técnicas aprendidas com agentes da CIA no combate ao terrorismo político no Brasil e em outros países latino-americanos dominados por ditaduras na época.

O livro foi transformado em filme, muito bem adaptado, diga-se de passagem, pois os lances surreais de responsabilidade da Ditadura Militar são incorporados de forma realista na película cinematográfica.

Frei Tito de Alencar Lima foi o religioso que mais desafiou a arbitrariedade da equipe policial, transformando-se em mártir da tentativa concretizada pelos militares de porem as mãos em Marighella.

As sevícias mais atrozes contra Frei Tito foram perpetradas em fevereiro de 1970, pela equipe do Capitão Maurício, na famigerada Operação Bandeirantes (OBAN), a “sucursal do inferno”, como assim o militar se referiu quando da transferência do religioso para a unidade de tortura. Queriam saber detalhes sobre o Congresso da UNE em Ibiúna/SP. Três meses depois ainda voltaria para a OBAN para mais sessões de torturas.

Possuidor de sólida formação marxista, Frei Tito resistiu à exaustão a todas as torturas físicas e psicológicas impostas pelos integrantes do Departamento de Ordem Política e Social, desafiando a intransigência policial a ponto de minar-lhe todas as fraquezas, embora tenha se mantido impávido às torturas abomináveis que lhe foram impostas pela equipe do Delegado Fleury.

No dia 07 de dezembro de 1970, o ex-capitão Carlos Lamarca, líder da Vanguarda Armada Revolucionária – Palmares (VAR - Palmares) comandou o seqüestro do embaixador suíço Giovanni Enricho Bucher, cuja ação foi inspirada no aprisionamento do diplomata norte-americano um ano antes.

No mesmo mês e ano, dia 10, o comando guerrilheiro liderado por Lamarca conseguiu seu objetivo, pois diversos prisioneiros políticos foram trocados pelo diplomata suíço, encontrando-se entre esses àquele que se tornou símbolo da resistência contra a ditadura e suas torturas, Frei Tito de Alencar Lima.

Frei Tito, após passar pelo Chile e pela Itália, foi exilar-se na França, onde não encontrou paz, pois em cada esquina via a figura despótica e terrível de Fleury em seu caminho. O arco do triunfo parecia-lhe o pau-de-arara no qual os militares infringiram-lhe as mais bárbaras torturas. Tudo lembrava os momentos de dor vividos no Brasil quando do seu aprisionamento.

No dia 10 de agosto de 1974, Frei Tito não suportou a permanência das seqüelas psicológicas e tirou a própria vida, enforcando-se em uma árvore, em L`Arbresle, no Sul da França. Era mais uma vítima da atroz ditadura militar que se consumia perante a inexorabilidade das cicatrizes não saradas de uma tragédia hedionda que enlameou a história brasileira, pois, de acordo com Frei Betto: “De modo exemplar, Frei Tito encarnou todos os horrores do regime militar brasileiro. Este é, para sempre, um cadáver insepulto. Seu testemunho sobreviverá à noite que nos abate, aos tempos que nos obrigam a sonhar, à historiografia oficial que insiste em ignorá-lo. Permanecerá como símbolo das atrocidades infindáveis do poder ilimitado, prepotente, arbitrário. Ficará, sobretudo, como exemplo a todos que resistem à opressão, lutam por justiça e liberdade, aprendendo, na difícil escol a da esperança, que é preferível ‘morrer do que perder a vida’ (...) Dentro dele alojaram-se torturadores, cujas vozes infernais ecoavam pela boca da legião de fantasmas. Sua consciência derreteu-se sob a pressão do delírio que, emergindo dos corredores profundos do inconsciente, reboava terríveis ameaças. Sua interioridade foi devassada como o lar sem portas e janelas exposto à ventania que traz a tempestade, a neblina e, por fim , a noite implacável. (...) A morte foi seu último ato de coragem e protesto. (...) Ao morrer, Tito matou seus algozes e recuperou a paz duradoura que lhe haviam seqüestrado.”.

(*) José Romero Araújo Cardoso. Geógrafo. Professor-adjunto da UERN. Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente.

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