Caro amigo Eduardo Andrade, passei alguns dias distantes da internet e nesta minha ausência, fiquei algum tempo sem olhar o Idéias em Xeque. Ontem a noite tive a felicidade de constatar que quando instei você a perseverar neste campo da blogosfera, eu estava certíssima. Se assim o fiz é porque tinha certeza que tinha muito a contribuir conosco. Vi e ratifiquei meu pensamento, percebi que eu tinha toda razão.
Lendo seu blog, como já disse, deparei-me com o belíssimo, expressivo e relevante texto de Lya Luft publicado na Revista Veja. Certamente um texto deveras importante para nós mulheres, principalmente na atual e persistente conjuntura a que estamos inserido. Infelizmente, nossa sociedade evoluiu em tudo, no entanto, permanece na era das cavernas no que concerne a forma com que a mulher ainda é tratada em nosso meio.
O texto é apaixonante e convictamente inigualável, contudo amigo, fiquei ainda mais feliz quando continuei lendo seu espaço virtual e vi mais abaixo, um outro post seu, fazendo referência ao supracitado e aludido texto. No seu post você encampa uma luta de muitos, porém e infelizmente, com poucos resultados. A luta a que me refiro é a luta pelo fim da violência contra a mulher.
Fiquei extremamente feliz de ver um homem se expressar da forma como fez e enganjado-se nesta luta. Certamente isso é algo bem raro de se ver. Percebe-se que este ainda é um mal que impera em nossa sociedade, que perpassa os séculos e que também ainda causa espanto e admiração quando alguém se declara litigante neste processo.
A violência contra a mulher é um ato de tamanha convardia que já deveria, há muito, ter sido extirpado do meio da humanidade, mas que, a despeito disso, ainda é aceito e tido como normal e merecedor. Para muitos, ainda pemanece a máxima que afirma que o homem não bate em mulher, mas sim, no seu atrevimento. Acredite se quiser amigo Eduardo, já ouvi esta expressão proferida por um magistrado e pode ter certeza, quase na me contive na ocasião. Fiquei meditando um juiz desse atuando em uma vara de família, o que seria das mulheres. Pois é amigo, com toda sinceridade, apesar da perfeição e maestria com que a grande autora Lya Luft escreve, preciso dizer-lhe que suas palavras falaram mais alto pra mim, do que mesmo o aludido texto. Afinal de contas, não é sempre que vemos, lemos ou ouvimos palavras como estas vindas de um homem.
Concordo em gênero, número e grau com tudo que você e Lya Luft declararam. Fato lamentável ainda termos de conviver com tamanho absurdo em pleno século XXI.
Parabenizo-te pelo brilhante espaço e pelas palavras encorajadoras que direcionastes a todas as mulheres. Claro e lógico que não poderia deixar de publicar seu repúdio contra a determinadas atitudes dos homens. Repúdio a atitudes machistas, grosseiras e rudes pronunciado por um homem é muito vem vindas. Assim, peço-lhes permissão para dividir com minhas leitoras e leitores, suas sábias e relevantes palavras. Aproveito e deixo também o texto de Lya Luft.
“Por que os homens nos matam
Não tenho a menor tolerância com a figura do pai e marido boçal, que usa o stress no trabalho como desculpa para gritar ou distribuir bofetões em casa. Nunca vi nem escutei um homem batendo numa mulher. Mas histórias a respeito, ah, muitas pululavam em comentários dos adultos, e nas minhas fantasias de criança com excesso de imaginação, que aumentava encantos e pavores.
Relatos como o do homem que regularmente se embebedava e batia na mulher, os dois já de cabelos brancos. Os vizinhos incomodados às vezes reclamavam, mas todos tinham medo dele e, afinal “a gente não quer se meter”. Os filhos adolescentes do casal se refugiavam no fundo do pátio, os menorzinhos choravam. Até que um dia um deles, crescido, se meteu entre os dois velhos, e disse: “Na minha mãe você não bate mais. Ou eu te bato também”. Minha memória diz que o rapaz foi expulso de casa e nunca mais o viram. A mãe recebeu disfarçados parabéns quando, tempos depois, o velho cruel morreu, mas comentava-se que estava abalada. Porque “mulheres são assim”. Será?
Por que uma mulher aceita apanhar do parceiro ou ser humilhada por ele, controlada, ironizada? Por que admite ser tratada com grosseria pelo filho homem? O que deixou em nós, as remanescentes das cavernas, essa marca feia e triste, essa deformidade que cola com a deformidade do ex-troglodita às vezes assassino? É um dos mistérios humanos, nem todos engraçados ou curiosos, que talvez nunca se expliquem.
Não sei por que a brutalidade masculina e a submissão feminina fariam parte de nossa estrutura psíquica ou de qualquer cultura. Mas não desconheço a ideia de que o homem se cansa em trabalho sério, e a mulher se distrai em casa com as crianças e as lides domésticas, às vezes, quem sabe, com um empreguinho “fora” - sem direito a stress. A esta altura, matam-se no Brasil cerca de dez a doze mulheres por dia. Não morte por assalto ou acidente de carro: assassinato na mão do parceiro. Em certos lugares a exp0licação para os maus-tratos é simplória: “Os homens são assim”, e pronto. Ou: “Mas ele não te deixa faltar nada” - significando trapos para se cobrir, restos para comer temperados com lágrimas e solidão.
Para haver um opressor, dizemos, é preciso haver um oprimido. A mulher-vítima é quem dá coragem ao truculento. O jogo sadomasoquista funciona quando há pelo menos dois parceiros. Por que tantas vezes essa parceria mortal? A maioria dos homens não é psicopata nem boçal. Não se alegra na dor da parceira, não precisa lhe bater com palavras, atitudes ou punho fechado para se sentir mais homem.
O que leva uma jovenzinha aceitar, no começo ou no meio de uma relação, a brutalidade masculina, numa frequência absurda? Cresceu em 90% nos últimos tempos o número de mulheres que pedem socorro, no país inteiro, nas delegacias da mulher ou grupos afins. Porém, esses locais são insuficientes ou mal equipados, faltam funcionários, psicólogos, médicos, juízes, computadores. As famílias nem sempre ajudam; amigos não querem interferir; a lei é vaga ou descumprida. A sociedade omissa desvia o rosto.
Enquanto os pedidos de ajuda se multiplicam, as vítimas já tendo coragem de se queixar, querendo recuperar sua dignidade ou salvar sua vida, a espera é tão longa e a punição tão branda que o facínora realiza seu desejo animal: matar a indefesa. O pavoroso fim de mais uma jovem por estes dias, que horroriza, comove e assusta o país inteiro e chega ao exterior, destaca em nosso cotidiano de crueldade e medo o fato vergonhoso de ainda sermos massacradas, humilhadas, muitas vezes mortas pelas mãos dos nossos homens. E, se é assim, junto com tantos milhares de pessoas que querem ver o fim disso, eu proponho: enquanto indivíduos, vamos ficar atentos, vamos denunciar, ajudar, vamos agir. Enquanto sociedade, vamos prevenir, impor leis severas, e socorrer as vítimas – tirando dos brutos e psicopatas seu reinado de horror”.
Lya Luft é escritora
Revista VEJA, 21 de julho de 2010
Agora deixo as palavras do amigo Eduardo Andrade que mantém seu espaço virtual, Idéias em Xeque, que os amigos leitores podem acompanhar na barra esquerda do Ad Finem.
“…Mas, vamos deixar este assunto pra uma próxima ocasião. O que quero mesmo é render elogios a uma das poucas coisas boas que a "Veja" ainda publica: os textos da escritora Lya Luft.
Essa semana a escritora trata do tema violência contra mulher de uma forma muito interessante. Vale à pena conferir o artigo "Por que os homens nos matam". Um texto simples, porém bastante esclarecedor. A escritora conseguiu passar muito bem a realidade de algumas mulheres e de várias famílias brasileiras. Num momento do texto, a autora faz um apelo que há muito já deveria ter sido ouvido por toda sociedade e, principalmente, por nossas autoridades: "Vamos denunciar, vamos agir. Vamos impor leis severas, e socorrer as vítimas, tirando dos brutos e psicopatas seu reinado de horror".
Ao término da leitura, me veio à mente dois ou três casos que conheço aqui na "nossa terrinha". Tentei ver alguma explicação para o fato de uma mulher jovem, bonita e com a possibilidade de construir um futuro pela frente simplesmente se submeter às humilhações de um cara grosseiro e machista, renegando a si o direito de viver. Infelizmente (ou felizmente?), não encontrei respostas para tal fato. E não encontro respostas e fico sem entender principalmente aquelas que se submetem a surras e agressões de todos os tipos e se calam, como se aquilo fosse normal. Tudo bem pode ser que muitas temam morrer nas mãos do agressor caso tomem alguma atitude. Todavia, pergunto: viver o resto da vida junto de um agressor machista e covarde, não seria o mesmo que ter sido condenada a morte? Que tipo de vida leva uma mulher pressa a uma realidade de agressões e humilhações, submetida às variações de humor de um companheiro machista e covarde?
Sei que estou tratando de uma situação bastante complexa, e não estou aqui querendo ser pedante ao ponto de achar que tenho a solução para o caso. Mesmo assim, ainda acho que numa situação de violência doméstica, entre enfrentar o inimigo ou submeter-se às suas vontades machistas e violentas, a primeira opção é a única saída”.
Eduardo Andrade
Valeu, Islamara. Agradeço suas palavras e o incentivo.
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