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quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Sem perdão

Recebi um email do amigo Geoavni Andrade contendo um artigo de J. R. Guzzo, publicado na veja deste dia 01/09.

O artigo é simplesmente fantástico, falar algo sobre ele, impossível, ele é completo. Acrescer alguma coisa a este artigo, seria no mínimo uma frustante tentativa de descrever o indescritível. Leitura obrigatória para quem odeia e ama FHC (se é que há estes últimos, segundo o autor do artigo, isso é quase impossível).

Só uma coisa quero dizer, há pessoas que acreditam que para demonstrar seu respeito, carinho, devoção ou babação mesmo, necessita gostar do que o outro gosta e odiar quem ele é odeia. Esse é um mal do ser humano.

Leiam e julguem vocês mesmos. O espaço estará aberto para críticas e objeções, mas eu concordo ipsis litteris com o escrito.

O que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso poderia ter feito de tão ruim assim em sua vida, pública ou particular, para ser tão malquisto nessa escura nebulosa que é o mundo político brasileiro? O fato é conhecido já faz bom tempo, mas tende a ficar mais evidente em épocas de campanha eleitoral. Seus adversários, no PT e no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tentam demonstrar diariamente que Fernando Henrique continua sendo, oito anos após deixar a Presidência, o inimigo número 1 do povo brasileiro.

fhc

Quase todos os que deveriam estar do seu lado fazem tudo o que podem para esconder que têm, ou tiveram, alguma coisa em comum com ele, qualquer que seja. Por que isso? A hipótese mais provável é talvez a mais simples: o que não se perdoa ao ex-presidente é o seu sucesso.

O Brasil, por força de teimosa tradição, em geral não convive bem com o êxito; na célebre defi nição do compositor Tom Jobim, sucesso, por aqui, é “insulto pessoal”, tanto para inimigos como para amigos de ocasião. Em vez de admiração, provoca ressentimento. Em vez de afeto, atrai inimizades. Produz inveja, despeito, rancor, mesquinharia – enfim, põe em modo operacional toda uma coleção de traços que estão entre os menos atraentes da personalidade humana.
Falar mal de Fernando Henrique Cardoso tornou-se, ao longo dos últimos anos, um esporte nacional, sobretudo entre o que se chama de “elite brasileira”.

É um dos passatempos preferidos da maioria dos nossos mais lustrosos capitães de indústria (ou de comércio, ou de finanças), fornecedores do estado ou empreiteiros de obras públicas – algo que transparece, aliás, nas doações de quase 45 milhões de reais feitas entre janeiro e julho para a candidatura oficial, mais do que o dobro do que se deu à oposição. A popularidade do ex-presidente é igualmente baixa entre os colossos do nosso mundo político, a começar pelos que têm as quilometragens mais longas, e os prontuários mais grossos, nesse tipo de ocupação.

Não gostam dele, de modo geral, professores universitários, cientistas políticos, analistas da imprensa, economistas, grandes vultos da cultura nacional – e possivelmente, como diria a socialite-celebridade Eleonora Rosset, o resto da intelligentsia brasileira, “de Marilena Chaui a Hebe Camargo”. O desapreço por Fernando Henrique, enfim, acabou se tornando um fenômeno interpartidário.

Começou com o PT e o “fora FHC”, por questões de estratégia e marquetagem política – era preciso “desconstruí-lo”, pois era ele o inimigo a abater. Com o tempo, os seus próprios aliados passaram a acreditar no que dizia o PT – e, por questões de estratégia e marquetagem política, decidiram afastar-se dele, convencidos de que “FHC custa votos”.

Resulta que estamos na terceira campanha eleitoral seguida em que a prioridade do PSDB é fazer de conta que não tem nada a ver com Fernando Henrique. Ele foi o único presidente que o partido elegeu até hoje – já no primeiro turno, por sinal, das duas eleições que disputou. Mas desde janeiro de 2003 não serve mais; tornou-se, politicamente, uma espécie de portador de doença contagiosa.

Os pecados dos quais Fernando Henrique é acusado pelos que sempre foram seus inimigos políticos e pelos que deixaram de ser amigos são numerosos demais para caber numa mera página de revista. Há alguma coisa errada no Brasil? Deu problema? Está com defeito? A culpa é dele, e ainda não deu tempo para consertar.

Entende-se melhor o espírito da coisa quando se verifica que a acusação talvez mais repetida descreve o ex-presidente como “arrogante” ou “vaidoso” – uma escolha realmente infeliz de palavras, pois comparado ao seu sucessor nesse quesito, justo nesse, o homem chega a parecer um monge trapista. Mais que tudo, porém, foi vendida e comprada a lenda segundo a qual ele deixou o país “em ruínas” e passou uma “herança maldita” para o presidente atual.

Mas o que aconteceu no mundo dos fatos foi exatamente o contrário. A verdade é que pouco do que existe de positivo no Brasil de hoje não está ligado, de alguma forma, aos dois períodos de Fernando Henrique na Presidência. Não é preciso complicar as coisas. Foi seu governo que finalmente encarou e venceu a inflação no Brasil – ou teria sido algum outro?
Em cima desse alicerce, no qual não se mexeu em nada, foi construída a casa que está de pé até hoje, a começar pelos aumentos reais de renda que tiraram milhões de brasileiros da pobreza e que agora são descritos como a maior conquista da história nacional.
Para isso não há perdão.

5 comentários:

  1. Político são todos iguais so ganham merito falando mal dos outros.

    Lula nem depois de tirar o Brasil da dívida e amenizar de forma significativa a miséria do Brasil, dar poder de compra ao salário do trabalhador e fazer pobre ser gente ainda assim num presta num sei quem seria; bom quem sabe né nem Jesus foi que deu até a vida e era Perfeito em em suas ações e até hj se mata e cometem bárbaries em seu nome.

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  2. Em primeiro lugar amiga Patrícia fico lisongeada de receber seu comento e agradeço de coração sua interação no Ad Finem, contudo sintom-me impelida a esclarecer alguns pontos:

    * Não sei se compreendi direito sua primeira frase: " Político são todos iguais so ganham merito falando mal dos outros", uma vez que o texto a que você se refere, não fora escrito por um político. Todavia, se o "político" refere-se a mim, tenho que dizer-lhe que (embora não me veja como tal, não de forma direta) vejo-me no direito, mesmo de revestida desse papel, expressar minha opinião. Não falo mal dos outros, nem de Lula e nem tão pouco de nenhum outro político, mas expresso o que penso. Não faço uso e nem gosto do expediente de ofender a A ou B, contudo, afirmo e ratifico não gosto de Lula, embora reconheça que ele contribuiu muito para "algum" (digo algum porque sabemos que nosso país anda longe de ter realmente diminuído a miséria. O caos social, seja na área de saúde, moradia, educação está implantado em nosso município e esses oitos anos não mudaram muita coisa, nós sabemos disso. Notícias diárias em jornais e televisão mostra a cara de nosso país) desenvolvimento de nosso país.

    * Não gosto de Lula, justamente por ter feito política a vida inteira utilizando-se desse expediente de falar mal dos outros, de ofender, de criticar, de ter construído um discurso que durante anos, que hoje difere de sua prática.

    * Não gosto de Lula, porque em pleno século XXI, ele cita o seu exemplo, de chegar onde chegou, sem ter um diploma de nível superior, achando que isso é uma vantagem a ser exposta, quando nós sabemos, as facilidades hodiernas de se obter um título como este.

    * Não gosto de Lula, simplesmente porque a prática dele não difere em nada das dos demais políticos brasileiros e aqui incluo todos mesmo. Plantou a vida inteira um discuros e hoje ttem outro totalmente contrário.

    * Quando afirmo minha admiração por Fernando Henrique Cardoso, não é pelo político FHC, (que sou consciente, também não diferente dos demais) é pelo Cientista Social, pelo intelectual, pelo Sociólogo, Conferencista e inteligente homem que ele é. Admiro sua capacidade, sapiência e perspcácia. Admiro seu jeito educado e cavalheiro. Admiro-o também, pois sei convictamente que muito do que foi colhido hoje em nosso país, foi plantado em sua gestão.

    Mais uma vez agradeço a interação e espaço continua aberto para mais debates. Fiquem todos a vontade.

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  3. "O que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso poderia ter feito de tão ruim assim em sua vida, pública ou particular, para ser tão malquisto nessa escura nebulosa que é o mundo político brasileiro? O fato é conhecido já faz bom tempo, mas tende a ficar mais evidente em épocas de campanha eleitoral. Seus adversários, no PT e no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tentam demonstrar diariamente que Fernando Henrique continua sendo, oito anos após deixar a Presidência, o inimigo número 1 do povo brasileiro." FOI A ISSO QUE ME REFERI NO INÍCIO DO MEU TEXTO ISLAMARA NEM A VC NEM AO AUTOR DO EMAIL.Respeito seus ideais mais ainda acho que o Brasil nunca esteve em situação tão favorável quanto agora e isso mais de cinquenta por cento da população Brasileira esta concordando comigo, querendo dar continuidade ao trabalho de quem realmente valoriza a nossa classe.Acho muita coincidencias tanta gente errada num mesmo pensamento, mas...

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  4. O artigo de J.R.GUZZO, é a pura verdade, Fernando Henrique Cardoso paga caro por ser uma das maiores inteligencias vivas deste País. Mas a historia ainda vai lhe fazer justiça, porque a mentira anda mas um dia cai. Não dá pra conviver com a mentira sempre.

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  5. Incontestável que, tanto Lula quanto FHC demonstraram erros e acertos, méritos e deméritos na condução do Executivo nacional. Aliás, a eleição de ambos bem demonstra a verdadeira essência da democracia, pois a maioria que elegeu FHC, filho da cátedra, sociólogo e escritor de renome, elegeu, oito anos depois, Lula, líder sindical e trabalhador da indústria siderúrgica, com curso de torneiro mecânico. Mas como democracia não é consenso, mas sim, dissenso - do contrário estaríamos mais para a imposição, que bem mais se assemelha a regimes totalitários -, permita-me discordar de você, nobre colega Islamara. Fazendo um cotejo de ambos os governos, não posso ser desonesto a ponto de não admitir que, partindo de meu prisma, o atual presidente muito mais realizou que o seu antecessor, quer aproveitando méritos deste e dando continuidade a programas já existentes, quer criando novos, como o ProUni, do que cheguei a ser beneficiado. De se considerar, também, que a julgar pelo modelo de governo realizado antes, não teríamos tido tantos concursos públicos como nos últimos anos, as escolas técnicas muito provavelmente já teriam sido privatizadas, como já vinha acenando o governo psdbista (Lula as ampliou, criando os institutos federais) e a divida externa estaria fadada a ser eterna, dentre tantas outras evidências de governos extremamente neoliberais, da estirpe de FHC. Vejo o artigo reproduzido como um tributo (não póstumo, diga-se) a FHC, verdadeiro no que diz respeito às suas qualidades, mas exagerado demais ao impor a admiração pelos atos políticos deste. O autor talvez até tenha motivos para tal. Contudo, não posso crer que o fato de o PSDB não vincular seu nome ao de Fernando Henrique se dê por injustiça. Se fosso somente por isso, os argumentos elencados nesse artigo desbancariam essa visão. Discordo, outrossim, quando se diz que o brasileiro não perdoa o sucesso alheio, acho que, antes, o brasileiro endeusa demais quem não merece tamanha apoteose. Enfim e por fim, para contradizer essa regra geral, só mesmo os quase 80% de aprovação do governo Lula, que não se deram por acaso. Guzzo deve entender que nem todos pensam como ele. Democracia é isso! O fato de a maioria não eleger governos do mesmo partido de FHC ou por ele apoiados não significa, necessariamente, uma falta de reconhecimento da intelectualidade deste homem e dos serviços que ele pode prestar (quiçá, doravante, nas academias, palestras, conferencias e produções cientificas outras), a meu ver incontestáveis. Leviano e demasiado apoteótico, o artigo. Um apoio não solicitado a FHC, enquanto político. Foi assim que o encarei.

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