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quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Contos

Em 2006, depois de algum tempo de ter concluído minha especialização, estava eu um pouco apática, sem ter muito o que fazer e resolvi pagar umas disciplinas especiais no Curso de letras na Uern. Na época, uma das disciplinas que escolhi foi Análise do Conto, onde tive a oportunidade de começar a apreciar a beleza literária desse gênero e deleitar-me com tão grandes leituras.

Muitos contos marcaram o início de minha trajetória, nessa viagem, que a época, estava apenas começando. Lembro-me que primeiro contato que tive com um conto (para adultos claro, para crianças já conhecia diversos) foi com conto “O Espelho” de Machado de Assis. O conto em questão, apresenta uma discussão de amigos sobre metafísica, onde neste debate um dos presentes ousa falar sobre a alma humana. O homem utiliza-se de uma experiência vivida por ele, para demonstrar a todos do grupo, o conflito existente entre a essência (alma interior) e a aparência (alma exterior). Recomendo que leiam o conto. É uma leitura gratificante.

Bem, mas queria mesmo tratar de um outro conto, que na mesma época, por ocasião da mesma disciplina, ele fora indicado pelo professor, como um dos possíveis para análise que faríamos e valeria como nota da unidade. Lembro-me, que quando li o título (A Morta) de pronto deixei-o de lado, escolhi de cara logo outro, com outro título que nem lembro mais.

MORTA

Ora, no mesmo instante pensei, como analisar um conto com um título deste. Nunca. Nunca leria aquilo, num queria nem pensar. Pois é, o tempo passou e no final de semana passado, mais precisamente no sábado a tarde, assistia uma aula do Professor Ailton Siqueira, quando ele citou o mesmo conto, como um dos mais belos e fortes que conhecia. Afff, fiquei pensando, como pode um conto com um título desse ser belo, ser forte. Não podia conceber isso.

O fato é que fiquei intrigada com aquilo. Fiquei curiosa em saber o que teria neste conto de tão especial para dois professores o citarem. Parei por um momento, refletindo o porquê de eu não ter lido. Medo, preconceito, o quê me impedira de ler o conto. Pensando nisso resolvi lê-lo. Queria saber do que se tratava. O que queria o autor ao escrever o conto e compreender o porquê de não ter lido, em época outrora. Ao iniciar a leitura, de cara vi que o conto tinha muito a nos transmitir. Iniciando com um de mistério, o conto retrata uma história que não teria nada de diferente, nada incomum, não fora a forma sagaz e inteligente do autor em descrever um fato.

GUY

Guy de Maupassant, esse é o nome do autor que escreveu A Morta. Depois de uma exclamação e uma interrogação, ele inicia uma afirmação fantástica, onde resume nela, toda a essência do que ele quer nos transmitir. “…É realmente estranho VER no mundo apenas um SER, TER no espírito um ÚNICO pensamento, no CORAÇÃO um único DESEJO e na BOCA um único NOME”…

Antes de prosseguir na leitura fiquei remoendo sua afirmação e tentando entender o que realmente queria dizer com tudo isso. Continuei-a  e percebi que a intenção do autor, estava além de suas meras e singelas palavras, que narravam uma história de homem que amara incondicionalmente uma mulher. O autor de forma perspicaz nos mostrava que não podemos limitar nossa vida, nossa visão, nosso coração, nossa voz, nossa mente para uma única coisa ou pessoa.

Nos mostra Maupassant que é no mínimo estranho, quem se acostuma a viver uma vida medíocre, limitada, encerrada a alguém ou alguma coisa. Sonhar novos sonhos, não signifca necessariamente que esqueceremos dos antigos. Desejar crescer e desenvolver, não significa necessariamente que estamos esquecendo nossa essência, que estamos deixando de lado quem somos, ou nossas origens.

Nos mostra ele, que a acomodacão às mesmas coisas, os mesmos sonhos, as mesmas pessoas, os mesmos lugares, não faz de nós, melhores seres humanos. Embora o conto trate de um amor entre homem e mulher, o autor vai mais além na sua essência. Ele quer nos mostrar que o medo da mudança muitas vezes nos paralisa, nos torna inerte e consequentemente isso faz com que nos anulemos e não lutemos por àquilo que realmente sonhamos.

Há pessoas que são tão limitadas que para ter uma amizade com outra, deseja escravizá-la e limitá-la à convivência apenas consigo, o que acaba por estragar tudo. Ha pessoas mais limitadas ainda, que nem tem amizades, por medo, egoismo ou algo parecido que nem sei o que é. O bom da vida é conhecer novas pessoas, fazer novas amizades e saber conservar as antigas. Conhecer uma outra pessoa, não signifca necessariamente que tenhamos que esquecer ou desprezar quem já conhecemos há muito.

Não entendo porque na maioria das vezes pensamos assim, achamos que se fizermos novas amizades abandonaremos as velhas, que se planejarmos novos projetos, esqueceremos os já planejados, que se lermos novos autores, fará com que deixemos de lado um que já admiramos.

Nada disso. Precisamos ter em mente que como diz o autor ‘é realmente estranho VER APENAS UM SER, TER APENAS UM PENSAMENTO, UM ÚNICO DESEJO NO CORAÇÃO E UMA ÚNICA PALAVRA NA BOCA.

Pense nisso.

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